quarta-feira, novembro 04, 2009

Matéria do Extra Online


Fiquei muito feliz com a vitória de Martinho na Vila Isabel. O samba é bom e, na Avenida, vai responder a algumas questões que sempre nos atormentam: hoje em dia, é preciso realmente que o samba seja "pra cima"?, a bateria tem que correr tanto?, um samba mais cadenciado ou em tom mais baixo, tende a morrer durante o desfile?, para a escola passar no tempo determinado, o samba tem que ser mais acelerado?

O desfile da Vila Isabel pode nos ajudar a ter algumas dessas respostas. Elas podem não ser definitivas - afinal, um fracasso do samba de Martinho não significa que outro no mesmo estilo não possa fazer sucesso; e um êxito não é indicador de que o mesmo vai se passar com os que vierem por aí com a mesma cadência. Mas, de todo jeito, pelo menos teremos um argumento para mostrar àqueles presidentes de escola que insistem em escolher refrãos com "oba-oba", sambas corridos e com pouca melodia, alegando que o desfile precisa sacudir a arquibancada...

Martinho da Vila fez um samba diferente dos que estamos acostumados nos últimos anos. É um sopro de novidade - que, vejam só, vem da "velha guarda". Ouço tanta gente reclamando que os sambas têm sido iguais ultimamente, e agora que aparece um diferente, ele é criticado. Quero fazer como a Vila: vou pagar pra ver. Vamos botar ele na Sapucaí e ver o que dá. Vamos oferecer algo diferente para o público e ver como ele reage. Vamos ter coragem de sair do lugar-comum e trazer uma obra de arte diferente para a Passarela.

O samba de Martinho da Vila foge da mesmice em outro aspecto, contra o qual sempre me debati: ele não se prende aos detalhes da sinopse. Fala da vida de Noel Rosa de forma poética. É emoção pura. Acho que, de antemão, ele já cumpriu seu papel, que foi o de nos fazer refletir sobre os sambas-enredo.

Por outro lado, me pergunto: por que é tão difícil fazer sucesso dentro de casa? Vejo algumas pessoas da Vila tratarem Martinho com alguma amargura, com uma acidez excessiva, com um nível de exigência altíssimo. Ora, amigos, respeitem seus ídolos. Agradeçam aos deuses do samba por ter alguém como Martinho da Vila em sua escola e por ele ainda querer entrar numa disputa como essa. Os grandes nomes das outras escolas já abandonaram o samba-enredo. Que bom que Martinho quer emprestar seu talento para a Vila. Ele precisa ser mais reverenciado dentro de sua própria casa.



http://extra.globo.com/blogs/rodadesamba/posts/2009/10/06/samba-de-martinho-da-vila-um-diferencial-para-carnaval-do-rio-229491.asp



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